“É preciso dar às pessoas o que elas procuram quando aqui chegam”

João Rocha, o Coordenador da Biblioteca Municipal de Almeirim – Biblioteca Marquesa de Cadaval, assume as suas funções um ano antes da pandemia nos ter obrigado a ficar em casa. Cultur.Alm falou com o homem que enfrentou um dos maiores desafios do nosso milénio mas que conseguiu “dar a volta” e continuou a divulgar livros e o conhecimento. A entrevista teve lugar no Auditório da Biblioteca Marquesa de Cadaval, na altura em que decorriam as comemorações dos 30 anos de vida da Biblioteca Municipal.

Os livros são mesmo os nossos melhores amigos?

Sim, os livros são os nossos maiores companheiros, acompanham-nos e transportam-nos  e dizem-nos muitas coisas porque nos dão conhecimento. 

Como se vê no papel de guardião dos livros e desse conhecimento? É difícil a sua função?

Quando gostamos do que fazemos, quando estamos rodeados por bons técnicos que nos ajudam nestas tarefas, é mais simples. É preciso dar às pessoas o que elas procuram quando aqui chegam. A nossa biblioteca tem, no seu arquivo, cerca de 43 mil exemplares em livros, além de outros documentos, portanto, uma coleção já com muito passado mas também com um presente, pois estamos sempre a atualizar o acervo para que as pessoas possam usufruir do conhecimento atual.

Uma biblioteca não são só livros. A Biblioteca Municipal tem patente uma exposição de caricaturas do António. É necessário este intercâmbio entre expressões?

As bibliotecas têm uma série de atividades associadas à leitura, aos livros, aos autores. Neste momento, a exposição de 50 caricaturas é um empréstimo da Casa Camilo Castelo Branco. 

As pessoas têm de olhar para a biblioteca como um espaço com várias atividades, aberto às associações para desenvolverem as suas ações; é um espaço de Formação, por exemplo, no domínio da internet; local onde podem aceder a uma rede e para fazer uma investigação.

Durante o período de confinamento, como chegou a Biblioteca ao cidadão?

Foi um período em que as pessoas ocuparam o seu tempo a ler. Os livros de casa não chegaram para o tempo disponível.  A Biblioteca Marquesa de Cadaval já tinha um projeto – Livro à Porta e, em março de 2020, lançou-se o projeto e levaram-se os livros a casa. O catálogo está online e os leitores puderam requisitar os livros. Fizemos entregas em casa, na ordem dos 200 livros mensais. O projeto ainda continua.

Houve mais empréstimos na altura?

Não. Nós fazemos acima de 300 empréstimos mensais. As pessoas gostam de vir à biblioteca e de ver os livros. E o acesso às estantes esteve vedado ao público naquela fase inicial de desconfinamento. E as pessoas sentiram a falta desse toque direto no momento da escolha.

Como é que um homem que veio de longe chega a esta cidade da Lezíria?

Eu nasci e vivi durante 40 anos na Amadora. A minha vida está associada à Terra da Banda Desenhada. Por decisão familiar, fomos para Tomar porque sentimos necessidade de fugir de uma grande cidade e, desde março de 2019 que, a pedido do Senhor Presidente da Câmara, me encontro a coordenar esta Biblioteca. Tem corrido muito bem. Foi uma aprendizagem, um desafio no sentido de tentar sempre melhorar os serviços, saber o que se pode renovar, em termos de estruturas… e entra a pandemia. 

A Biblioteca vive do contacto afetivo. E de repente, tudo falta. Tivemos o projeto Livro à Porta e, nas atividades habituais, usámos as plataformas digitais, por exemplo, para contar histórias.

As tecnologias são um aliado do livro?

Sim, sem dúvida. Nós temos de procurar como nos podem ajudar, a nós e aos livros. Nós tivemos cerca de 200 atividades online  – lançamentos de novidades, histórias, promoção de livros, poesia durante um ano. A par de fazer pão, beber vinho (riso) as pessoas, durante o confinamento, puderam usufruir também da leitura de um bom livro e de uma discussão em família sobre os temas de um livro.

Qual é o livro da sua vida?

É difícil dizer. Não sei se é o livro da minha vida mas há um livro do Paulo Coelho, O Alquimista, porque é um livro que recomendo quando me pedem uma sugestão de uma leitura suave. Um livro que fala da nossa procura exagerada por coisas que, afinal, podem estar bem perto de nós. Mas gosto muito de novos autores, e, são muitos, o que é bom sinal. 

Já que vem da Terra da Banda Desenhada, qual é o seu autor de Banda Desenhada?

Olhe, vou escolher um herói da Banda Desenhada pela coragem que teve como “herói da Banda Desenhada” – Lucky Luke, a personagem de um pistoleiro mais rápido do que a sombra que fumava. Mas o Lucky Luke deixou de fumar por causa do exemplo. Era uma personagem conhecida internacionalmente, sobretudo, pelos jovens e por isso, deu o exemplo e deixou de fumar. Gosto por isto.

O que acha de Almeirim?

É uma cidade fantástica! E embora tenha feito a sua grande aposta na prática desportiva,  eu sou um convicto lutador para que a cultura esteja sempre presente nos concelhos. Uma presença séria que passa pela educação em cultura, a verem a cultura, desculpe a comparação, como o vinho – quer se goste ou não, acompanha-se sempre! É preciso as pessoas acompanharem a cultura e, nestes últimos anos, Almeirim tem feito esse trabalho. As pessoas vêm a Almeirim por causa da Sopa da Pedra, do Melão, tudo certificado, temos o turismo gastronómico mas aqui também tem de haver espaço para o turismo por via da Cultura. E espero que a Biblioteca possa ser este pólo.