“Estou no pico da minha carreira e gostava de voltar a Portugal”

Diogo Neves , natural de Almeirim, joga atualmente em Itália, num dos campeonatos mais competitivos do mundo. Em entrevista ao nosso jornal, Diogo falou da sua carreira, dos seus objetivos e revelou a vontade de voltar a jogar em Portugal

Foi noticiado recentemente que vais representar o Vercelli. É um desafio ambicioso, representar esta equipa do Vercelli?

Claro que sim, estou muito contente com este novo projeto. O Vercelli é um clube histórico que já ganhou, nos anos 80, 3 Ligas Italianas, 2 Taças CERS e 1 Coppa de Itália. Portanto, é um clube que vive muito o hóquei. E sinto muito o entusiasmo dos adeptos, logo há um grau de exigência muito elevado e estou muito contente por este novo desafio. 

Para quem não conhece o hóquei em Itália, como é que se descreve esta equipa do Vercelli? É uma equipa que luta todos os anos pelo título?

O Vercelli é uma equipa que foi muito forte nos anos 80/90, depois teve uma fase em que desceu de divisão, mudou de direção, teve ali alguns problemas de direção e nos últimos anos tem vindo a renascer e quer voltar a lutar pelo primeiro lugar no campeonato. Já no passado fizeram um grande campeonato e este ano reforçaram-se  bastante. Penso que para o próximo ano vamos tentar lutar para o primeiro lugar.

Nas últimas duas épocas jogaste ao serviço do Sandrigo. Que balanço fazes da época? A equipa  conseguiu alcançar os seus objetivos?

As duas últimas épocas ao serviço do Sandrigo foram épocas positivas para mim, cresci muito e tive que me adaptar. A nível individual foi excelente, a nível coletivo tivemos algumas dificuldades, covid, lesões.. o que não nos permitiu chegar ao nível que nós queríamos. 

De qualquer maneira, acho que foram dois anos positivos, onde cresci e sinto que estou no pico da minha carreira, sei que tenho muito mais para dar e melhorar. A nível de experiência e leitura de jogo, estou a atingir o pico.

Nas últimas duas épocas, fizeste um total de 47 golos em 45 jogos. Na tua opinião, foram duas épocas bastante positivas a nível individual?

Sim, no ponto de vista individual, doram duas épocas muito boas, tive que me adaptar, sempre fui considerado médio e nestes dois anos passei a jogar à frente, porque a equipa tinha dificuldade em finalizar e acabei por descobrir outra função, onde me dei muito bem.

Para quem não te conhece, e enquanto jogador de hóquei, que tipo de jogador és dentro da quadra?

Sempre fui um jogador que gosta muito de pautar o jogo, de pautar o ritmo e a velocidade, fazer assistências, obviamente, toda a gente gosta de marcar golo, mas sempre tive prazer em fazer uma jogada bonita e fazer assistências para os meus colegas de equipa marcarem golo. Sou este tipo de jogador.

Relativamente ao hóquei em Portugal, costumas acompanhar a modalidade? Achas que o hóquei é competitivo no nosso país?

Claro que sim, neste momento, na minha opinião, é onde há mais qualidade, porém, eu acho que o campeonato Italiano é mais equilibrado. Isto é, cá em Portugal, os 4 primeiros têm mais qualidade que os do meio da tabela, em Itália, o nível das equipas é mais “homogéneo”.

Já representaste o Sporting e o Benfica, se tivesses que fazer uma comparação entre Itália e Portugal, qual é o país mais competitivo?

O campeonato italiano, em si é mais competitivo, qualquer equipa pode ser campeã. Já em Portugal, o Benfica, o Sporting, o Porto, o Oliveirense e o Barcelos estão muito acima das outras equipas. Mas se compararmos Portugal e Itália, claramente, Portugal ganha à Itália mais vezes.

A nível de atenção mediática, em Itália vive-se muito o hóquei? 

O hóquei vive-se muito em Itália, obviamente, é um país muito grande, portanto só se joga em algumas regiões. Mas nas regiões onde se joga os pavilhões estão cheios, há muitos tifosi (fãs) como eles lá se chamam. O Vecelli, o clube onde  vou jogar, tem adeptos excelentes.

Já estás em Itália desde 2016, o que é que te fez abraçar este desafio de ir para Itália?

Eu quando saí de Portugal fui para Espanha, desde miúdo que via vídeos do hóquei italiano e do hóquei espanhol e disse aos meus pais que um dia gostava de jogar fora do país, e quando, no último ano de universidade, na altura jogava no Benfica, surgiu esta oportunidade de jogar para Espanha. No ano em que acaba o curso falei com os meus pais e aceitámos a proposta. Nesse ano, em Espanha correu bem, depois fui para Itália e tem sido uma experiência incrível, uma experiência de vida, cresci muito e tem sido muito enriquecedor. 

Aprendi línguas novas, falo 5 idiomas. Conhecer pessoas novas, obviamente, tem um preço a pagar, que é estar longe da família, mas a outra parte que é conhecer outras culturas, pessoas, idiomas.. tem sido muito enriquecedor.  

Adaptaste-te bem, portanto, à cultura italiana. Tens alguma preferência entre Portugal e Itália?

Vou sempre preferir Portugal, mas gosto igualmente da Itália.

Como é que começou esta tua paixão pelo hóquei?

Começou desde miúdo, tinha 3 anos, e o meu irmão, que é mais velho 5 anos, começou a jogar hóquei. Portanto, desde pequenino deram-me uns patins, da chico, e enquanto o meu irmão treinava, eu caminhava, nem sequer patinava, com os patins. Quando fiz a primeira equipa do meu escalão, aqui nos Tigres de Almeirim, eu já patinava super bem e desde aí surgiu esta paixão. Depois, aos 8 anos, eu e o meu irmão fomos para o Sporting. E nós, como Sportinguistas, foi como um sonho tornado realidade. E a partir daí nunca mais parou esta paixão e vontade de chegar longe nesta modalidade.

Já aqui referimos a questão da distância, é muito difícil estar longe da família?

Sim, é muito difícil, obviamente que vamo-nos habituando a estar longe, mas hoje em dia dá para colmatar um bocadinho as saudades e a distância com as tecnologias de hoje em dia. Sempre que posso, tento vir cá, na Páscoa, no Natal, mas nunca é fácil encontrar tempo.

Itália  foi um dos países que mais sofreu. Como viveste esse período, marcado pela covid-19?

Foram momentos muito difíceis, ainda jogava no GSH Trissino, e nós fomos das primeiras equipas que teve casos positivos, antes do Lockdown já estávamos em casa todos sem saber o que se passava, sem saber o que fazer, sem saber se voltávamos a treinar ou a jogar.. foi complicado, lembro-me da minha mãe ligar todos os dias. Esse tempo já passou e espero que não volte.

Como é a tua relação aqui com Almeirim, costumas acompanhar as notícias daqui lá em Itália?

Claro, sou muito ligado à minha terra.

No futuro, gostavas de voltar a jogar em Portugal?

Sim, gostava de voltar. e como estava a dizer, acho que estou a chegar a um nível de maturidade e ao pico da minha carreira e sinto que estou pronto para voltar. Obviamente, se a época correr bem e surgir a oportunidade de ficar em Itália, depois tenho que decidir, mas gostava de voltar.

Para estes próximos anos, quais são os teus objetivos?

Eu tento ser melhor a cada dia, tento não planear muito a longo prazo. Mas ser melhor, tentar ganhar, ganhar um título em Itália e regressar a Portugal.