Avô de António Féria decisivo na escolha do neto

Tinha entre 10 e 11 anos quando o Dr. Correia da Silva, autodidata do Ténis, influenciou os netos a praticar este desporto. António Féria ficou de tal forma ligado à modalidade que ainda hoje em dia ensina os mais novos.

Como é que começou a sua ligação ao ténis?
Começou com 10, 11 anos porque o meu avô, Dr. Correia da Silva, era um fanático pelo Ténis, um “Self-made man” que colocou os seus netos a aprender Ténis. Eu aprendi essa modalidade nos clubes de Ténis do Estoril, pois os meus avós moravam na Parede, e durante as férias e o ano que estudei no liceu de Oeiras fui aprendendo e praticando no Clube de Ténis do Estoril. O meu avô tinha um campo aqui em Almeirim e nós fomos praticando e, tempos depois, surgiram outras solicitações e o Ténis ficou um pouco de parte.
Entretanto, decidi tirar o curso de treinador e passei a dedicar-me 100% ao Ténis. Fundamos a Escola Municipal de Ténis de Almeirim, há 21 anos, e daí para a frente tem sido uma passagem de centenas de miúdos por este tipo de desporto, que em Almeirim era praticamente inexistente. Fomos plantando esta semente que foi dando resultados e passando para a vertente de competição. Criou-se a secção de Ténis dos 20km de Almeirim e uma parceria entre a Escola Municipal de Ténis e os 20km de Almeirim. Agora também estou na minha curva descendente embora goste muito do que faço e tenha imenso apreço pelos miúdos. Estou na parte mais lúdica: ensino, iniciação e aulas de adultos, e o professor José Rodrigues também dá algumas aulas mas está mais na parte de competição, mais ligada à secção de Ténis dos 20km.

É o seu avô o grande responsável de hoje estarmos aqui a falar de Ténis?!
Sem dúvida, tenho a agradecer isso porque eu, na altura, só queria Futebol, assim como todas as crianças com cinco e seis anos, e depois foi-me dada essa hipótese de começar a praticar Ténis. Tive um grande professor no Clube de Ténis do Estoril, um senhor que já faleceu, um grande mestre húngaro que veio para Portugal, refugiado da Segunda Guerra Mundial, que desenvolveu a sua atividade sempre no clube de Ténis do Estoril. Era um homem com 1,90m, muito simpático, que conseguia agarrar umas oito bolas com uma mão, o senhor Geza Torok. Pratiquei outros desportos mas profissionalmente o ténis tem feito parte da minha vida nas últimas décadas e este é o que me dá mais satisfação de ver os miúdos a jogar.

Ainda guarda uma alguma raquete do seu avô?
Guardo uma raquete dele e guardo uma minha de quando iniciei o Ténis. Guardo com muito carinho, uma delas já tem as cordas partidas mas a do meu avô mantém-se intacta e ainda dentro de uma prensa, que era o que havia para colocar as raquetes de madeira para que no inverno não empenassem devido à humidade. Portanto, durante todo o inverno, depois de jogar, colocavam a raquete na prensa para não haver esse problema de empenar.

Até aí estamos a falar de muitas diferenças com os dias atuais?
Completamente. Os pesos das raquetes de hoje não têm nada a ver com as raquetes de há 50 anos atrás. Hoje as ligas são muito mais leves, também há possibilidade de haver vários tipos de bolas, consoante o nível de ensino. Bolas mais leves, que saltem menos, para que as crianças tenham capacidade para bater na bola e não saltar. Nós antes treinávamos com as bolas que são as bolas da competição de hoje em dia. Claro que mais velhas, mais gastas, mas eram as bolas normais na altura e as raquetes eram bem mais pesadas e menos resistentes, sendo que as cordas eram de tripa natural, coisa que se partia com mais facilidade e não davam a velocidade e os efeitos que dão as cordas sintéticas utilizadas atualmente.

Hoje é mais fácil ser jogador?
Talvez sim, porque há mais ferramentas para trabalhar e há mais técnicos com mais conhecimentos. A formação académica com treinadores como há hoje em dia havia muito pouco ou só alguns tinham acesso a esse grupo de treinadores. Para além de serem caros, não havia muita cultura do Ténis. Estava muito radicado em Lisboa, Porto e outras grandes cidades. E depois havia os “maluquinhos” pelo Ténis e que tinham um court de Ténis em casa, outros reuniam-se para brincar um pouco e divertirem-se.

Como surgiu a ideia na altura de construir campos de Ténis no Parque?
Os campos de Ténis aqui surgiram muito pouco depois da construção do parque. Em 2002 surgiram os campos de Ténis e, nesta altura, nas piscinas, estava o professor Lourenço, que me convidou, que sabia que tinha o curso de treinador, e já tínhamos falado no Ténis. Também penso que, nessa altura, o vereador do desporto, atual presidente Pedro Ribeiro, também tinha esse conhecimento. O professor Lourenço disse para tentarmos iniciar aqui uma escola de Ténis, em Almeirim, e assim foi, sempre com o apoio da Câmara. Nessa altura, as piscinas eram Aldesc, empresa municipal, e avançámos em outubro de 2002, com meia dúzia de pessoas. Não havia as tais bolas que há hoje em dia, eram bolas amarelas normais de competição, que começamos com crianças de 6 anos, com raquetes fracas pra essas bolas, mas o certo é que iniciámos em outubro e no mês de abril/maio do ano seguinte, 2003, entrámos nas primeiras competições federadas, porque, se calhar, não fazia sentido treinar tanto sem competição. A ALDESC ainda se podia federar como clube, depois criou-se a secção de Ténis da Associação dos 20km porque ainda jogámos como ALDESC e como ALDESP. A partir daí foi um despoletar. Começaram a aparecer muitos miúdos a praticar desportos e que estavam bastante contentes e resolveram experimentar Ténis e gostaram. Posteriormente, eu tive que sofrer uma intervenção cirúrgica e convidei o professor José Rodrigues para substituir-me e ajudar-me pois a escola já tinha muitas pessoas e não podia ficar dois meses sem dar aulas. E ele começou e ficou com a parte da competição e eu com a parte lúdica. E desde 2007 tem sido esse o caminho…

Uns mais velhos para a competição, outros mais para recreação.
Uns que, enquanto não começavam a competir não descansavam, e outros que, simplesmente, não queriam competir. Queriam ludicamente praticar Ténis. Gostam de brincar e de jogar Ténis mas a competição está fora de questão. Enquanto outros não. Também haviam os que gostavam mas os resultados não eram logo muito bons. Alguns desistiram, mas grande parte deles, hoje em dia, já quer competir.

Mas esse é o papel também de clubes e associações da nossa dimensão.
Sim, obviamente. Aqui nós pertencemos à associação Leiria/Santarém que tem alguns programas, para a captação de novos talentos, e tem os circuitos já federados, mas não oficiais que contem para pontuação. Os circuitos Minispin, é onde aparecem miúdos de várias idades, consoante a sua categoria, e, como jogadores, vão sendo agrupados e vão começando a competir. Por outro lado, nós, Escola Municipal de Ténis, juntamente com os 20km e outras escolas limítrofes, Cartaxo, Samora, Coruche e outras escolas de Ténis, fazemos o circuito não federado, que é o circuito Future Stars, em que vamos tentar incutir, nos miúdos que já competiram e outros que nunca competiram, o gosto pela competição. Uns gostam e ficam, outros continuam a praticar ludicamente. E, como em todos os desportos, alguns desistem mas vão aparecendo outros novos.

Também está na moda o Padel. Parece que está na moda mas não é para os mais pequenos e sim para os adultos, não?
Também já vão aparecendo raquetes para miúdos pequenos. Como o Padel é mais simples que o Ténis, o Ténis tem um óbice grande que é o serviço, e se as pessoas não sabem servir bem, não conseguem jogar convenientemente, enquanto o Padel nesse aspeto é muito mais fácil e também tem a componente que é ser sempre jogado a pares e, socialmente, é muito giro. Mas sim, também já há miúdos a praticar o Padel e pessoas que nunca jogaram Ténis começam a jogar Padel e a disputar jogos, enquanto no Ténis têm que andar a treinar um bocado para disputar jogos com pontos.