O que escreveu O Almeirinense sobre o 25 de Abril de 1974

O Golpe de Estado levado a efeito pelas Forças Armadas depôs o Governo de Marcelo Caetano

Como é do conhecimento dos nossos leitores, na madrugada de 25 do mês anterior, um movimento revolucionário, habilmente preparado e estudado, após ter ocupado posições chaves nos meios de comunicação forçou o Prof. Marcelo Caetano a entregar o poder ao Gen. António Sebastião de Spínola.

Tropas da Escola Prática de Cavalaria, sob o comando do Cap. Salgueiro Maia, após terem escutado o sinal combinado saíram a caminho de Lisboa não tendo encontrado qualquer resistência. Todas as Forças Armadas do Norte a Sul do País aderiram ao Movimento não tendo havido felizmente, derramamento de sangue.

Criada uma Junta Militar – Junta de Salvação Nacional – sob a presidência do General António Spínola e da qual fazem ainda parte, o General Francisco da Costa Gomes, Capitão de Mar e Guerra José Baptista Pinheiro de Azevedo, Brigadeiro Jaime Silvério Marques, Brigadeiro de Aeronáutica Manuel Diogo Neto, Capitão de Fragata António Alba Rosa Coutinho e Coronel Carlos Galvão de Melo, foi apresentada à Nação pela R.T.P, tendo, na altura, sido a lida a seguinte proclamação: “Em obediência ao mandato que acaba de lhe ser confiado pelas Forças Armadas, após o triunfo do Movimento em boa hora levado a cabo pela sobrevivência nacional e pelo bem-estar do povo português, a Junta de Salvação Nacional, a que presido, constituída por imperativo de assegurar a ordem e de dirigir o País para a definição e consecução de verdadeiros objetivos nacionais, assume perante o mesmo o compromisso de: “– Garantir a sobrevivência da Nação, como Pátria Soberana no seu todo pluricontinental;

– Promover, desde já, a consciencialização dos portugueses, permitindo plena expressão a todas as correntes de opinião, em ordem a acelerar a constituição das associações cívicas que hão-se polarizar tendências e facilitar a livre eleição, por sufrágio direto, de uma Assembleia Nacional Constituinte e a sequente eleição do Presidente da República.

– Garantir a liberdade da expressão e pensamentos;

– Abster-se de qualquer atitude política que possa condicionar a liberdade da eleição e a tarefa da futura Assembleia Constituinte e evitar por todos os meios que outras forças possam interferir no processo que se deseja eminentemente nacional;

– Pautar a sua ação pelas normas elementares de moral e da justiça, assegurando a cada cidadão os direitos fundamentais estatuídos em declarações universais e fazer respeitar a paz cívica, limitando o exercício da autoridade à garantia da liberdade dos cidadãos;

– Respeitar os compromissos internacionais decorrentes dos tratados celebrados;

– Dinamizar as suas tarefas em ordem que no mais curto prazo o País venha a governar-se por instituições de sua livre escolha;

– Devolver o poder às instituições constitucionais logo que o Presidente da República eleito entre no exercício das funções”.

As notícias do Movimento das Forças Armadas foram avidamente escutadas em Almeirim que, com maior e mais justificado interesse acompanhou o desenrolar dos históricos acontecimentos. Por medida de precaução na tarde do dia 25 estiveram encerrados os estabelecimentos comerciais que, no entanto, logo no dia imediato voltaram à normalidade. Desejamos que a Junta de Salvação Nacional possa realizar os princípios enunciados na sua proclamação dentro do espírito de justiça e encontre, em todos nós, o maior civismo e respeito.

O 1º. de Maio de 1974

Foi grande a alegria do povo português, mais expressiva, como não podia deixar de ser, da parte da juventude. Por toda a parte as flores que muitos traziam nas lapelas e nos caros eram bem a exteriorização de uma libertação desejada e agora concretizada. Nas cidades e vilas realizaram-se grandes concentrações de pessoas que embora de ideologias diferentes, celebravam a alegria de um dia vivido em liberdade sem qualquer receio e no respeito mútuo.

Por isso e graças ao modo como acataram os apelos emanados, quer da parte da Junta de Salvação Pública, quer dos chefes dos vários partidos, foi possível viver de uma maneira espontânea e livre o dia dos trabalhadores.

Em toda a parte a maior ordem e disciplina, sinal de que é possível no respeito mútuo que gera o civismo, fazer-se algo de válido com o povo português. Foi um dia memorável e belo.

Comando da Região Militar de Tomar

Pela Junta de Salvação Nacional, foi nomeado Comandante da Região Militar de Tomar, o senhor Coronel de Cavalaria Francisco José de Morais.

Oficial distinto e um dos mais brilhantes elementos da sua Arma, o senhor Coronel Morais, que há longo tempo conhecemos e prezamos, reúne todas as condições para exercer, com subida dignidade e eficiência, as altas funções para que foi escolhido.

In O Almeirinense, 1 de maio de 1974, edição nº 402