Perante a nova polémica que surgiu em torno de Luis Montenegro, atual Primeiro Ministro, é posto a descoberto, mais uma vez, o fantasma da corrupção e do clientelismo que constituem, intrinsecamente, a vida política em democracia no nosso País.
Alguns dirão que é mais um “dia normal” na política portuguesa e que Montenegro não tem que se justificar relativamente às ligações da sua empresa (Spinumviva) com o Grupo Solverde aceitando que este, enquanto cidadão, tem direito a possuir vida privada bem como os seus negócios.
Em princípio, é claro que temos de concordar.
O que efetivamente levanta algumas dúvidas, em termos de transparência, é o facto de que, apesar de não ter já no presente, qualquer participação na empresa, esta continua a ser da sua família.
Ora, não sejamos ingénuos ao ponto de pensar que a atividade da mesma não é discutida em contexto privado e que não poderá existir alguma influência de Montenegro na tomada de decisões profissionais daquela estrutura, no que concerne aos respetivos clientes e processos.
É precisamente em relação a esta posição dúbia que podem ser colocadas questões no que toca à transparência de toda esta situação e às declarações prestadas.
Aliás, se efetivamente não existe nada a esconder e que tudo se passa dentro da legalidade, podemos então perguntar porque é que se entra em negociação no que toca à formação de uma Comissão de Inquérito para avaliar toda esta situação? Porque é se negoceia a desistência de uma Moção de Confiança se o Partido Socialista desistir da dita Comissão?
Parece que o Governo quer mesmo cair, para que haja eleições antecipadas, optando para poder assim, culpabilizar os Partidos da Oposição de quererem enveredar por um caminho de instabilidade política.
António Carneiro – CH Almeirim