A importância da atividade física na vida das crianças e dos adolescentes

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define “atividade física” como sendo qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que requeiram gasto de energia. 

É consensual que a sua prática se reveste de inúmeros benefícios para a saúde em todas as idades. Tem impacto na esfera cognitiva, emocional, social e física. A nível intelectual, melhora a capacidade de atenção e de memória, promovendo as competências académicas. Em termos emocionais, diminui o risco de depressão porque provoca a libertação de dopamina. Socialmente, promove a oportunidade de diversão com amigos e familiares, reduz o risco de comportamento antissocial e melhora as competências de cooperação e trabalho em equipa. Fisicamente, melhora a função cardíaca e respiratória, estimula a força e o tónus muscular, promove a deposição de cálcio nos ossos tornando-os mais fortes, diminui o risco de doença cardiovascular, evita o aumento da pressão arterial, ajuda a manter o peso em níveis adequados, diminui o risco de diabetes, de obesidade, de tumores e de doenças crónicas futuras. Em termos motores promove a coordenação, a psicomotricidade e proporciona o conhecimento do próprio corpo e dos limites que o separam do espaço e da natureza envolventes. Deve iniciar-se nos primeiros dias de vida. A duração e o tipo de exercícios variam com a idade da criança/adolescente. 

A OMS recomenda a permanência na posição de barriga para baixo, no chão, por um período mínimo diário de 30 minutos (tummy time) a todas crianças com idade inferior a um ano que ainda não se mobilizam autonomamente. Além de evitar o sedentarismo, esta posição facilita o desenvolvimento das capacidades motoras grosseiras que se prevê sejam adquiridas nos meses seguintes: sentar, gatinhar, andar e correr. Logo que essa autonomia seja adquirida, a permissão para a livre descoberta de um meio envolvente seguro constitui a melhor forma de exercício físico.

Entre os 2 e os 5 anos de idade, é recomendável que a criança pratique exercício físico por um período mínimo de três horas diárias. Entre os 3 e os 5 anos, esse período deve contemplar o mínimo de uma hora de intensidade moderada a intensa. As atividades físicas devem ser o mais diversificadas possível, permitindo o desenvolvimento da psicomotricidade global. As brincadeiras no exterior possuem uma forte componente lúdica, pelo que constituem a forma mais sedutora de incentivar e promover a sua prática. 

Entre os 5 e os 17 anos, é recomendável a prática diária de 60 minutos de exercício moderado a intenso. Com uma frequência trissemanal, esse período diário deve ser de intensidade vigorosa. Para que o organismo usufrua de todos os seus benefícios, a atividade física praticada deve ser preferencialmente aeróbica, mas também deve incluir exercícios que fortaleçam o músculo e o osso.  

A intensidade do exercício oscila entre leve, moderada-intensa até vigorosa. Jogar à bola com os amigos, ou correr num parque são exemplos de exercício vigoroso. Andar livremente de bicicleta ou de patins representam atividades de intensidade moderada-intensa. Andar calmamente a pé ou “passear o cão” correspondem a um exercício leve que, embora tenha pouco efeito, é preferível ao sedentarismo.

A atividade aeróbica compreende exercícios vigorosos que aumentam a frequência cardíaca e respiratória e incluem atividades como correr e nadar. O fortalecimento muscular exige exercícios que aumentem o tónus muscular, tais como flexões e abdominais, praticados em atividades como o ioga, as escaladas e a natação. O fortalecimento dos ossos exige que o cálcio seja depositado no seu interior. O embate dos pés no solo é um requisito indispensável para que isso aconteça, pelo que exercícios como correr, pular e saltar são atividades imprescindíveis na prevenção da osteoporose.

O desporto é o expoente máximo da prática de exercício físico. É um jogo institucionalizado, formal e com regras universais. De forma organizada promove a prática de atividade física, a gestão do stress e o espírito de equipa e de cooperação. Contudo, algumas das atividades gratuitas e não organizadas citadas previamente também são suficientes para colmatar essas necessidades. O desporto não substitui o papel e a importância de “brincar no exterior”, principalmente nas idades mais precoces da vida. O objetivo fulcral comum destina-se a combater o sedentarismo, promovendo a saúde e prevenindo doenças. Com o intuito de fomentar hábitos de vida mais saudável, o governo australiano divulgou algumas recomendações simples aos jovens: saiam na paragem anterior ao destino final quando se deslocam em transportes públicos, tentem marcar encontros mais frequentes com os amigos no exterior, incentivem os professores a orientar a prática de exercício aeróbico intenso nas aulas de Física e o treino de danças divertidas e jogos com saltos no interior das escolas. 

No dia 6 de abril celebra-se o Dia Mundial da Atividade Física, que visa sensibilizar para os benefícios da prática regular de exercício. Mas o Ser Humano reparte, invariavelmente, a sua rotina diária entre atividades físicas, sedentárias (tempo de estudo/trabalho, refeições, entre outras) e um período indispensável de sono. Este destina-se a reparar os danos infligidos no cérebro durante a vigília e permite reter as aprendizagens diárias, sendo recomendável um período mínimo ininterrupto de 9 horas de sono entre os 5 e os 13 anos, e de 8 horas acima dos 13 anos de idade. Uma alimentação saudável constitui um complemento indispensável. Todas as necessidades básicas devem ser satisfeitas de forma equitativa, pelo que a desejável prática desportiva não pode interferir com a quantidade indispensável de sono diário. É por isso que as entidades idóneas divulgam em simultâneo o tempo mínimo recomendado de sono, o tempo mínimo de atividade física e o tempo máximo de ecrãs para cada idade.  O mesmo princípio devia nortear o trabalho das escolas, das famílias e da comunidade em geral, incentivando-as a trabalharem em sintonia, centradas no bem-estar das crianças e adolescentes, tentando proporcionando-lhes horários que permitam compatibilizar o cumprimento sereno e sem atropelos de todas as necessidades básicas. 

Informação mais detalhada pode ser consultada em World Health Organization, National Health Service- NHS do Reino Unido, Centers for Disease Control and Prevention- CDC, Recomendações do Governo Australiano, Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física da Direção Geral de Saúde.

Teresa Gil Martins – Médica Pediatra