“Da nha casa até ao jardim”, por Augusto Gil

 • Na esquina do Chico de Alpiarça, era engraçado aquela figura bem alta, primeiro de bicicleta e depois mais tarde de mota, do mestre “Serapião que já o conhecia porque ao longe já estava com o braço esticado. Ele já vinha a cumprir o Código da Estrada, como que a dizer que iria voltar. Foi ali naquela esquina que vi pela primeira vez um Aranhol que transportava os cascos de vinho da Adega do Fernão Pires, ou mesmo a carroça que vinha da Serração do Almeida do lado da Igreja onde muitas vezes pedíamos serradura para por nos caixotes dos gatos. Em frente muitas adegas que durante as vindimas de ceroulhas arregaçadas, os homens lá iam pisando uvas. Até à Ribatejana havia o Sr. Isidro Rodrigues “Correeiro” sogro do SR. José Maria Barros, onde se encontra hoje a Ourivesaria do Sr. Costa, a seguir, Os Rafoas, o Consultório do Dr. Álvaro, com sua eficiente assistente a D. Odete, com uma voz soberba para cantar Ópera, recordo num espetáculo do Ping Pong, hilariante em 1969, depois uma serralharia do “Ilhéu” (tudo vai acabando). Em frente da dita Ribatejana, 2 frondosos choupos, davam sombra a uma fonte, que ainda me lembro de deitar água, era a do Azemel. Onde a colocaram?

• Logo a seguir a Casa do Mestre Simão Taxista em que um dia a esposa a D. Ângela Matias e mais a minha mãe sabendo que os filhos neste caso o meu irmão nadavam na Vala, à socapa foram roubar as roupas a estes desgraçados que tiverem que vir em ciroulhas, para não dizer nus para casa atravessando as vinhas do Dr. Miguel e depois secarem com umas boas vardascadas. Depois a casa dos “Ligeiros”, o sapateiro Manuel dos Ovos, a D. Anica solteirona com um buço de fazer inveja a muitos homens e que mais tarde foi minha catequista e logo a seguir a Padaria do Manel Carlos o pai do NHÃM, juntamente com a Loja de Mercearia do Carrinho de Mão, a seguir a Travessa do Canto do Jardim e a casa do Sr. Manuel Ferreira onde foi um Armazém de Tabaco e que aqui se encontra à porta e depois a EDP já no tempo do Sr. Ventura. Sr. Albino da Luz, o tal que queria atravessar a cheia a nado cheio de “gosma” iria fazer parte do recheio nesse tempo, depois a tasca café do “Alentejano” pai do Irmãos Garcia, do Café Império, logo de seguida a casa onde morou o Dr. Carlos Ferreira que foi ministro do Trabalho nos anos 40 no tempo do Dr. Arantes de Oliveira e que foi mais tarde uma loja de Adubos para a Agricultura já não falando da casa do Sr. Chico Godinho. Do outro lado da rua neste caso já na Rua do Paço, ao lado do Edifício do Sr. Vasco Andrade” recordo um Latoeiro o Sr Amarino, outra das profissões que se foram. A seguir a casa onde morou o Sr. “Gaguez” o Manuel Frazão, tesoureiro da Camara, a seguir o Páteo onde o mestre Chico, Marido da Mariana mãe da Domitília e do Internacional a andar de mota o “Pipse”, depois o Hospital uma Instituição, cujo nome proveniente do seu Fundador, o Dr. João Cesar Henriques, médico que por cá se radicou e que dizem que foi um Deus por ser um homem devotado com os pobres e muito humano, bastante religioso, legou o Edifício a Almeirim para o Hospital mas como tudo nesta terra, dizem que levou anos para ser feito.

• Também para recordar que antes de este edifício ser feito, foram ali feitas Verbenas onde os mais consagrados artistas dos anos 20/30, por ali passaram e muitos bailes, passagem de filmes, comes e bebes etc. Nada tinha a ver com as restantes festas já existentes na então Vila. Muitos ali nasceram e muitos pereceram. Mas mal ou bem, tínhamos um Hospital hoje aquela fachada soberba com altivez e rica, tem os dias contados. Quando passamos por lá, as más línguas, continuam a dizer,” Volta Salazar”. Por ali passaram muitos médicos, enfermeiros, auxiliares, maqueiros, pedintes, oportunistas, etc. Pelas poucas vezes que o utilizei e ainda bem, neste Hospital, recordo com prazer e de muitos e que vão recordar desde as “Irmãs” As Alemãs, ao próprio Capelão já velhote Padre Eduardo, vai uma lembrança bem atribuída, apesar dos tempos idos sem duvida seria um pecado não poder dizer que o Sr. Fernando “Sacristão”, fez ali muitas vezes alguns milagres. Que sejam os leitores a fazer-lhes justiça. Sem palavras!

• O Jardim ali anexo sempre fechado, dava para entender, que “aquilo” não era para estragar, nem para ser usado. E agora? Parque de automóveis. Ainda se há-de ver pior. Do outro lado, uma Loja grande, tal como o dono o Sr. Rogélio Barros tinha ao lado a Casa do Avô da esposa do Sr. Maurício, pai da nossa conhecida Luísa Maurício, a Papelaria e tipografia do Sr. Arnaldo Godinho que tinha vindo do “Canto da Praça” mas antes foi ali muitos anos uma barbearia do Sr. Manuel Torrado e também dos poucos Almeirinenses a ter uma Telefonia mas das grandes, a Loja do Sr. José Moreno era logo a seguir onde já tinha existido naquele lugar uma mercearia do Sr. Januário Seixas. É interessante recordar, que as figuras que deram mais nas vistas nesta época, sem dúvida eram pessoas “Baixas”, Alfredo Rapa, Afonso da Pensão, Alfredo do Café, Sr. Catrola da Mercearia na Travessa do Vitorino, mais tarde pertença do Sr. Joaquim do Campino ou mesmo, o Padre Matos, Sr. Farinha, Sr. Albano, Sr. Chico Godinho, Os Veríssimos, Dr. Isabelinha, Sr. Quim Gonçalves, Guilherme Gonçalves etc, faltam mais, mas os tais apelidados no provérbio… ”pequenos, velhacos e dançarinos não interessam por agora”.

• Descendo pela orla esquerda, antes da casa do Alfredo Grais e do seu irmão “Felício” para recordar que o nosso Toino Papão engraxador é tio desta geração, e foi ali ao lado os primórdios da Mercearia do Sr. Zé Moreno. Já agora por não falar na Papelaria do Sr. Manuel dos Santos onde o meu irmão Gil da Tapada arranjou o seu segundo emprego juntamente com a tia solteirona do Manel Fernandes que hoje se encontra como funcionário do Centro de Saúde, estabelecimento que foi antigamente a Relojoaria do Sr. Santos, marido da Briolanja que vindo da Figueira da Foz, estabeleceu-se no lugar onde mais tarde viria a ser o Consultório do Dr. Albergaria, hoje para variar uma Pastelaria, por conta do Pai do Sr. David Costa e Silva Pai e bem recordado em frente ao então C.?. De seguida, o Café do Sr. Afonso onde recordo o Sr. Pacheco do (Gaz) no largo do Conde ter sido um dia Empregado naquele Estabelecimento. Um dos Cafés mais bonitos que Almeirim. Aquelas pinturas, sobre trajes, lugares e paisagens de Almeirim em 1958, recordo dessas, uma velha com uma canasta na cabeça, a ponte da Vala com os barcos bem “confecionada” como dizíamos na altura pintados pelo Alexandrão. Há uma expressão do Sr. Afonso que mais tarde quando teve o talho, eu faço questão de recordar expressões ditas aos clientes, aquando estava a servi-los ao Balcão – O café é cheio ou a galgar? O copo do vinho vai assim ou (vais) em pontas? Quase pegado ao Café, um Alfaiate, com aqueles óculos bastante grossos, meteu-me sempre, impressão como podia ele costurar…” O Chamusca”.

• Falar da Loja do Sr. Fulgêncio? Ainda me lembro com os suspensórios e sempre com uma quadra na montra fazendo “Publicidade” da última novidade de Roupas. Simpatia foi sempre o seu dom. As Garagens do Sr. Edmundo Bastos, onde o meu Pai se iniciou como lubrificador já quase com 20 anos e muito mais tarde o Sr. Fernando Eletricista que numa correria de um lado para o outro, tinha que dar conta do Recado. Morreu fora de Portugal na terra de ninguém. Mas para muitos no tempo em que a tecnologia mecânica era desconhecida nunca dizia um não a um pedido de desenrasca…

• Finalmente ali à esquina o Café do Sr. Alfredo com um bilhar nas traseiras onde entravamos pela travessa hoje ainda bem recordada “a do Vitorino Sapateiro”. Foi ali os meus primeiros ensaios de Bilhar até que um dia um taco caiu-me em cima da tola, quando o meu Pai me apanhou lá. Até à Barbearia do Sr. Zé Carvalho ia um salto. Ali mesmo à esquina existiu um talho do Pai do Sr. Agostinho Catrola que seguiu a mesma profissão, a barbearia do sr. Zé Carvalho e do Mestre Isidro, numa vida levada a “Pelos”. Não queria acabar sem dar uma achega a dois famosos e ilustres que vieram do Além e por aqui se fixaram como os demais antigos migrantes e que por vezes sabe Deus mataram alguma fome a muitos considerados ricos. O Quim e o Noé do Café do Solido.

• Quando novatos atrás do Balcão eram preciso andarem em cima de um estrado para atenderem os clientes: 10/12 anos a média das suas idades. A exploração Infantil era neste caso bem aceite. Vieram de situações de vida miseráveis e procuraram melhoria para o seu futuro. Para isso servem eles de exemplo. Estão cá a trabalhar e fizeram família, o Quim infelizmente já faleceu…

• Já agora fico sentado na esperança de um dos antigos engraxadores me possam vir engraxar os meus sapatos numa das mais tristes praças agora de Almeirim. Terei que ser a fazê-lo hoje. Pensei em perguntar a alguém se de facto valeu a pena andar a vender a nossa mocidade para isto? “Belos tempos…e até à próxima!

Augusto Gil