Aos 50 anos de idade e depois de ter entrado na arbitragem em 1995, Jorge Maia dá ao jornal O ALMEIRINENSE uma grande entrevista. Aqui passa em revista a ligação à arbitragem, primeiro como homem do apito, e agora como dirigente. Assume ser uma pessoa leal e ponderada.
Como se tem sentido na pele de presidente do Conselho de Arbitragem?
Considero-me um presidente de terreno, existem outras formas de presidir. Sinceramente, não consigo trabalhar de outra forma, temos de ter um compromisso de gestão ativa e não de gabinete. A presença junto dos árbitros e agentes de arbitragem é fundamental para a sua tranquilidade e estabilidade. Um presidente e o seu Conselho de Arbitragem tem de conhecer todos os seus recursos e potenciá-los. Os árbitros não são números.
Agora que está a iniciar o terceiro mandato já pode fazer comparações. Qual das tarefas tem gostado mais? Arbitrar ou ser dirigente?
Arbitrar ou ser dirigente, resposta fácil, arbitrar. Ser árbitro é uma sensação indescritível e única. A parte de dirigente implica uma maior exposição pública e abrangência institucional, gestão de recursos humanos ao nível das nomeações para os jogos e das próprias equipas de arbitragem. O escrutínio público ao nível do tema arbitragem é enorme, sabemos que a arbitragem é sempre notícia, temos imensos programas televisivos que consomem horas com os “casos de fim-de-semana”, muitos deles deturpados. As pessoas não têm noção das pressões que nós e os árbitros somos alvo, são situações que lido com bastante facilidade e munimos os árbitros de ferramentas para estarem preparados. Estou e sempre estarei aberto ao diálogo, nos locais estabelecidos, como é óbvio.
Quais são os maiores desafios para quem é dirigente na arbitragem regional?
Se essa pergunta fosse há dois ou três anos, a resposta seria a captação/recrutamento dos árbitros, neste momento, o maior desafio dos conselhos distritais é a sua retenção. Atualmente, temos uma geração de jovens, onde o compromisso e a resiliência não estão no dicionário da juventude, tudo lhes é dado de mão beijada, não existe espírito de sacrifício, quer na arbitragem, quer nas restantes áreas. Temos um longo caminho pela frente, muito desafiador. Depois, temos a realidade dos nossos campos, onde as frustrações dos nossos pais/adeptos vão para os campos insultando e ofendendo de uma forma leviana os árbitros, muitos deles jovens e a iniciar a sua carreira.
Qual é o futuro na nossa arbitragem?
É muito promissor, e está garantido, jovens com muita irreverência e potencial nos jogos realizados. Realço a arbitragem feminina a aparecer em grande destaque, com projeção nos patamares nacionais.
Como tem visto o percurso de Hélder Carvalho na Liga?
O Hélder está na sua segunda época da 1.ª categoria nacional, tem uma imagem serena, árbitro ponderado e a fazer um percurso seguro. Árbitro dedicado à arbitragem e sempre disponível na colaboração do seu distrito. É VAR Internacional e tem como ambição Internacional ser árbitro principal, devendo assim potenciar mais a suas capacidades e criar a sua imagem. Importante realçar a presença nos quadros da liga, os árbitros assistentes, Francisco Pereira e Diogo Pereira.
E Almeirim pode voltar a ter um árbitro no topo?
Depois de Alder Dante, existem fortes possibilidades de isso acontecer, começam a surgir novos valores e com grande potencial.
João Veríssimo pode chegar a patamares interessantes?
Sim, claramente, a pergunta é direcionada ao João, para isso deverá continuar a investir no seu percurso, para que não se acomode ou estagne. O percurso dos árbitros é muito exigente para se atingir o escalão máximo e o sonho deles é atingível. Temos outros Joões, que serão casos sérios na nossa arbitragem.
Almeirim é uma das casas da arbitragem regional. O que oferece de condições e localização geográfica?
Sim, sem dúvida. Fui um dos grandes impulsionadores do aumento dos árbitros da zona sul, concretamente, Almeirim. Desde 2011, eu, Nelson Andrade, Duarte Cerveira, José Sequeira e muitos jovens, estudávamos em minha casa, treinávamos na Zona Industrial de Alpiarça, depois no circuito de manutenção de Almeirim e daí até à criação do Centro de Treinos de Almeirim e do NALT – Núcleo de Árbitros da Lezíria do Tejo, foi junto da Câmara Municipal de Almeirim, nas pessoas do presidente Pedro Ribeiro e do vereador, Paulo Caetano, que desde a primeira hora, deram as condições físicas, que hoje são uma realidade. Estudámos no Auditório do Estádio Municipal, sendo a parte física e prática efetuada no relvado do mesmo.
Permita-me recuar. Como entrou na arbitragem?
Em 1995, através de um anúncio no jornal desportivo A Bola, de um curso de árbitro em Lisboa.
Quem foram as maiores influências?
Antes de iniciar o curso, não tive. Nem jogador fui. Depois de estar na arbitragem, sem dúvida que o Pedro Proença, foi o árbitro de topo que tive o privilégio de fazer jogos na 1.ª e 2.ª Liga, que é impressionante na sua competência, o melhor, e a minha maior referência.
O que gostava de ter atingido e não conseguiu?
O sonho de qualquer árbitro é chegar à 1.ª liga e depois a Internacional, mas só o consegui como 4.º árbitro.
Porque chegou a estar filiado em Lisboa?
Para se tirar o curso de arbitragem, tens de ter residência no distrito ou seres estudante no mesmo. Como não tinha, nem uma coisa nem outra, e em Santarém não havia curso tão cedo, dei a morada de um familiar de Lisboa e assim juntamente com o meu irmão, tirámos o curso e durante 10 anos fui árbitro com muito orgulho num distrito que muito me diz. Hoje é impensável alguém fazer este sacrifício durante todos os fins de semana e sem uma única dispensa.
Quem eram e são as referências na arbitragem?
Lá fora, o francês Clément Turpin na atualidade, Pierluigi Collina dos antigos, em Portugal na atualidade Luís Godinho e João Pinheiro, dos anteriores Pedro Proença.
Ainda treina com os árbitros. Porquê?
Faço-o sempre junto dos árbitros quer do futebol, quer do futsal, para manter a forma física, ajudar na formação e mostrar que, com uma boa gestão de tempo, tudo se consegue.
Onde pode chegar o Afonso Maia?
Sou suspeito para falar do Afonso, iniciou a arbitragem com 13 anos, tem agora 20 anos e o seu percurso tem sido feito com passos seguros, sem saltar etapas. A minha exigência para com ele é tremenda. É um jovem promissor como muitos que temos no nosso distrito e ao nível nacional. Deve continuar a trabalhar como o tem feito dia a dia, sabendo que, se mantiver este caminho, o futuro poderá ser o que ele sonha.
Quem é o Jorge mais longe dos relvados?
Licenciado e com pós graduação em Direção de Instituições de Ação Social, ligado desde sempre ao ensino e à educação, trabalho há 20 anos na Academia CLASS 20, como coordenador de atividades e com uma excelente equipa e um dinamismo diário sempre em prol do bem-estar das nossas crianças. Sou alegre, adoro convívios entre família e os verdadeiros amigos, bem disposto, dinâmico, amigo do seu amigo, e qualquer projeto é um desafio a abraçar.