João Apolinário conta a sua luta contra a Covid-19

COVID-19 O Presidente da Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim João Apolinário, mais conhecido por João Rossindo, foi infetado com Covid-19 em fevereiro deste ano e contou ao O Almeirinense a batalha que travou com a doença, bem como o demorado processo de recuperação.

Como ficou a saber que ficou infetado com Covid?
No dia 1 de fevereiro, depois de uma pequena reunião na sede da Junta com alguns funcionários, senti que algo de anormal se passava comigo, não estava bem. Na 3ª feira, dia 2, fui voluntariamente logo de manhã, fazer um teste rápido à farmácia Mendonça, o qual deu positivo.

Que sintomas apresentou?
Tudo começou 4 ou 5 dias a seguir às eleições para a Presidência da República, estive todo o dia a espirrar, muito corrimento nasal e alguma febre. Tomei paracetamol e uns comprimidos para as alergias e os sintomas melhoraram. Na 2ª feira seguinte ao fim da tarde comecei com dores no corpo, falta de ar e sensação de febre alta.

Fiquei em casa isolado da restante família seguindo a medicação e os conselhos médicos

A determinada altura houve complicações. Como é que, de repente, o seu estado se agravou e vai parar ao hospital?
Quando recebi o resultado positivo do teste fui de imediato ao Covidário do Centro de Saúde onde fui consultado pelo Dr. João Ferreira. Fiquei em casa isolado da restante família seguindo a medicação e os conselhos médicos. Pelo telefone, fui acompanhado diariamente pela minha médica de família, a Drª Hélia Castro e, progressivamente, houve um alívio dos sintomas da doença, as febres altas, dores, cólicas abdominais, diarreia, falta de ar, até que numa dessas consultas, no dia 12, a Drª Hélia falou-me numa possível alta no Domingo seguinte, visto já não ter sintomas e sentir-me bem.
Na consulta de Domingo, inexplicavelmente tinha havido uma “revolução” no meu corpo, novamente com febres altas, que não obedeciam ao paracetamol, dores fortes no peito e uma grande falta de ar, estava pior que no início, o que levou a minha médica a mandar-me para as urgências Covid do Hospital.

É de referir também o facto de estarmos sozinhos naquele ambiente super controlado, sem o apoio direto e a presença da nossa família (…)

Conte-nos essa experiência do internamento.
Chegado de INEM às Urgências Covid, deparo-me com uma sala cheia de doentes e as equipas médicas a tentarem acudir a todos. Fui atendido rapidamente, fizeram-me análises e vários exames, cujos resultados deram no meu internamento. Esperei bastante tempo para subir para o piso em virtude da falta de camas.
De referir que estávamos numa fase crítica para os hospitais com os recursos praticamente esgotados.

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No início foi complicado, não pelas dores ou pela febre, mas pela dificuldade que tinha em respirar, não conseguia estar sem o oxigénio. Tive receio, pois assisti a vários colegas de quarto que foram transferidos para os Cuidados Intensivos em situações muito complicadas. Conforme ia desaparecendo a pieira e a farfalheira no peito, começava a recuperar a respiração. Surgiram alguns problemas associados como a tensão arterial altíssima e o funcionamento dos rins o que me preocupou bastante pois não obedeciam à medicação.

João Apolinário falou com O Almeirinense

Que sentimentos ia tendo ao longo dos dias?
Não foi fácil devido aos problemas que mencionei. Os dias iam passando e criava-se alguma incerteza sobre a verdadeira situação da doença e das sequelas que poderiam ficar. Diversas vezes vinha-me ao pensamento as reportagens que tinha visto na comunicação social sobre a gravidade de tantos casos, e muitos deles fatais, que se passavam no país e por esse mundo fora.
Não é fácil abstrairmo-nos dos factos quando estamos com o mesmo problema. É de referir também o facto de estarmos sozinhos naquele ambiente super controlado, sem o apoio direto e a presença da nossa família, falar apenas ao telemóvel por vezes era insuficiente, faltava o contacto, o carinho. Mantive sempre a fé e a esperança que ultrapassaria esta terrível doença.

Já se passaram três meses desde o início da doença, está a ser um processo demorado e a recuperação muito lenta, características frequentes nesta doença (…)

Sentiu que foi devidamente acompanhado pelos profissionais de saúde durante toda esta experiência?
Quando comecei com o problema e fui acompanhado pelos médicos de Almeirim, vi uma enorme dedicação, competência e responsabilidade no tratamento desta doença. No Hospital de Santarém, desde as Urgências até ao internamento, reparei o mesmo nas várias equipas que me assistiram e a outros doentes, em situação pior que a minha.
Nunca é demais voltar a referir o trabalho de todos os profissionais de saúde nesta pandemia, que teriam
resultados muito mais graves sem o seu esforço quase sobre-humano. O nosso Sistema Nacional de Saúde tantas vezes criticado, não é perfeito, tem falhas, sim é verdade, mas quando estive internado foi na altura que que o mesmo estava nos limites e vi como todos os profissionais se organizavam e cuidavam de nós, os doentes.
O meu agradecimento a todos, que tudo fizeram para me salvar.

Ainda não voltei às minhas funções na Junta de Freguesia mas tenho acompanhado, o mais possível, com os meus colegas de executivo, nos quais deposito a maior confiança (…)

Como tem sido o processo de recuperação?
Tenho tido problemas a nível de cansaço e falta de ar, alguma dormência nas pernas e alguns valores preocupantes nas análises relacionados com o funcionamento dos rins, mas a tensão arterial já está controlada. Estou a fazer uma série de exames, análises e a ser acompanhado pela minha médica de família. Já se passaram três meses desde o início da doença, está a ser um processo demorado e a recuperação muito lenta, características frequentes nesta doença, mas estou a ser bem acompanhado e vou superar os problemas.
Ainda não voltei às minhas funções na Junta de Freguesia, mas tenho acompanhado o mais possível, com os meus colegas de executivo, nos quais deposito a maior confiança, todos os problemas e assuntos importantes que vão surgindo e espero rapidamente voltar em pleno às minhas funções.

Que mensagem ou conselho gostaria de deixar?
Principalmente a quem pensa que isto é um problema que só acontece aos outros, e só aos idosos e se forem infetados ficam assintomáticos e ultrapassam a Covid com facilidade, posso-vos dizer que não é assim, é complicado e marcou-me bem e não sei até quando.
Vi no Hospital casos muito graves e alguns fatais. Para voltarmos a ter a nossa vida normal como anteriormente, temos que respeitar as normas da DGS e, acima de tudo, ter bom senso.

Entrevista de Ana Rita Amaro