“Vai ser muito difícil continuar a fazer Agricultura” 

Numa pequena conversa com o Jornal O Almeirinense, Júlio Silva, agricultor e produtor de tomate, admite que as condições atuais não favorecem o meio agrícola. Para além da seca, Júlio destaca ainda o preço do gasóleo e dos adubos como fatores de descontentamento entre os agricultores.  

A seca afetou muito o seu trabalho?

A seca afeta sempre o nosso trabalho. A lei da natureza não está dentro da normalidade. Estamos no inverno e não chove há dois meses, é claro que vai afetar o nosso trabalho. Afeta em todos os níveis, não só agora, como futuramente. 

O que pode ser feito para contrariar esta tendência de seca? 

É difícil contrariar. Ninguém manda na natureza. Se fosse assim, andavam todos a brigar: Uns queriam sol, outros queriam chuva, mas penso que há pouca coisa a fazer. Eu acho que a chuva vai voltar, não sei se vai voltar na altura certa ou numa altura em que poderá causar estragos. Quando as culturas já estão instaladas, a chuva é sempre bem-vinda. Mas há alturas do ano em que a chuva não favorece certas culturas. 

Já recebeu algum tipo de apoio do Governo para fazer face a esta situação? 

Há muitos anos que sou agricultor e falou-se sempre dos subsídios. Eu tenho amigos meus que costumam dizer: “ Se chover,  vêm subsídios para a agricultura; na seca, vêm subsídios para agricultura”. Isso é totalmente falso. Há subsídios em todos os ramos, não só na agricultura. Qualquer ramo, desde a agricultura até à restauração, há projetos em que qualquer pessoa, de qualquer ramo se pode candidatar. O que é certo é que a agricultura está a passar uma grande crise. Não sei se dá para continuar a fazer agricultura. O gasóleo está ao preço que está. Os adubos, agora com a pandemia, não há matéria prima; os preços dos adubos aumentaram bastante. Vai ser quase impossível continuar a fazer agricultura, se isto não mudar. E o preço do gasóleo é uma barbaridade. 

Agora com os fundos que vêm da União Europeia, acha que Portugal vai investir bem o dinheiro na agricultura? 

O Governo devia dar importância a todos os setores. Não sei se esse dinheiro será bem empregue. O que é certo é que não se justifica. Em Espanha, por exemplo, o gasóleo ou qualquer bem alimentar, é mais barato que aqui. Depois, existe uma carga fiscal muito grande, e não é só na agricultura. Não sei se o povo vai continuar a suportar isto durante mais tempo.